domingo, 3 de dezembro de 2017

Solidão na viuvez, uma questão de genero



A casa tem centenas de objetos e eles não combinam entre si. Parece a casa de um acumulador. Mas é a casa de um homem só. Ele é viúvo há um ano, tempo mais do que suficiente para não saber o lugar das coisas, para não conseguir jogar nada no lixo, para não saber decidir se vai doar algo, para acumular correspondência sem abrir, contas sem pagar, roupas fora das gavetas, sapatos pela sala, louça na pia e poeira por tudo.

Desde que a esposa faleceu, ele se parece com todos os homens viúvos da vida real, dos filmes e da literatura. Se veste mal, anda de pijama quase o dia todo, esquece de tomar banho, esquece de comer, praticamente não sai de casa e não atende o telefone.

Impressionante o impacto causado na vida de um homem a morte da esposa de um casamento feliz. O homem quase morre junto. E, por alguma obra misteriosa do destino, quando acaba conhecendo alguma mulher solteira, quer logo casar.

Esse é um cenário comum. Como faz falta uma mulher na vida de um homem que se descobre viúvo.

O contrário não é verdadeiro. Há alguns exemplos de viúvas que quase morrem com seus maridos, mas a dor passa mais rápido. As viúvas se descobrem livres, solteiras novamente, sem os compromissos do matrimônio e sem os compromissos da casa se descobrem livres e com muitas possibilidades.

As mulheres agora viúvas deixaram a casa dos pais para casar. Passaram da tutela dos pais para a tutela dos maridos. Livres dos dois, ganham o mundo, viajam, formam grupo de amigas, grupo de literatura, retomam os estudos, vicejam!

A viuvez do homem é quase morte, a viuvez da mulher é recomeço.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Google Maps

O que é finito? O que é infinito? O que é metafísico? O que é um encontro cartesiano? Onde a latitude cruza com a longitude?

Muitas perguntas invadiram rapidamente meus pensamentos enquanto eu observava o localizador do Google Maps indicar na tela do computador o encontro da rua Terezinha Turcato com a Névio Turcato no bairro Rubem Berta, zona Norte de Porto Alegre.




Moradores por mais de 30 anos do bairro Tristeza, na zona Sul da cidade, meus pais foram homenageados em datas distintas, pós morte, pela Câmara de Vereadores, sendo nome de rua em uma região onde não construíram suas histórias e onde não são conhecidos. Essa é uma área nova de Porto Alegre, bairro Rubem Berta, e estava órfã de nomes de ruas.

Minha mãe batizou uma longa rua do bairro após sua morte em 1997, e  meu pai Névio Turcato, após sua morte em 2012, renomeou a Travessa 45, uma pequena via urbana que encontra com a rua Terezinha Turcato.

Névio e Terezinha voltam a se unir após 16 anos separados graças ao traçado viário e podem ser vistos de qualquer lugar da Terra pelo Google Maps, que os uniu para sempre, na eternidade das coordenadas geográficas.

As coordenadas do Google Maps: