quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Uma aranha dentro do tênis

Aranha armadeira. Guardem este nome. Também é conhecida como aranha de bananeira.  Em humanos adultos, sua picada pode ser fatal a partir da quinta hora do ataque. Eu fui vítima da bichinha. Estava dentro do tênis, calcei sem sacudir e fui passear com os dogs Pisco e Tupã.


Até que ela aguentou firme, só reclamou do meu pé apertando-a depois de uns 15 minutos de caminhada, quando resolveu enfiar suas quelíceras no dedão do meu pé direto, que recebeu um jato de veneno.

Dói. Dói bastante. Me joguei no chão e imediatamente tirei o tênis, pensando que encontraria um escorpião. Era uma aranha, até pequena, parecia inofensiva. Por coincidência eu estava em frente a casa dos meus vizinhos veterinários.  Matei a aranha e fui lá, mancando.

O casal olhou e disse que tinha quase certeza de que era uma aranha armadeira e, se fosse, o efeito do veneno poderia ser fatal a partir da quinta hora. E completou: o soro antiaracnídeo só existe em um hospital da rede pública em Brasíla. Lá fui eu pro HRAN.

Cheguei com a aranha dentro de um copo plástico e fui logo explicando: fui picada por esta aranha, ela é venenoso, pode até matar.

A resposta: preenche a ficha, senta e aguarda.

- Mas eu estou morrendo...

- Senta!

Depois de uma hora e nada, liguei para o Centro de Toxicologia, um serviço 24 horas que atende no número 0800.6446774, e expliquei o caso. Bruno foi quem me atendeu. Pediu a foto da aranha, mandei via celular. Sim, ele confirmou ser uma armadeira.

Meu pé latejava, mas não estava inchado, nem havia mais a marca da picada. Eu não estava ensanguentada, nem com fratura exposta. Nunca seria atendida na emergência da rede pública. Peguei o carro e fui para o hospital do meu plano de saúde. Contei a história, recebi um remédio para dor e a médica explicou o que eu já sabia: o soro só existe na rede pública.

Ela mesma ligou para o Centro de Toxicologia, reclamou que eu não havia sido atendida. O
Centro ligou para o plantão do HRAN, que mandou eu voltar e, quando cheguei na emergência, quatro horas após a picada, um grupo de funcionários me recebeu e encaminhou logo para o médico. Minha pressão estava 19 por 14. Mais um pouquinho e eu teria um enfarto.

O médico telefonou para o Bruno, trocaram ideias sobre o meu caso, e só então eu recebi uma unidade do bendito soro antiaracnídeo. A pressão não desceu, me deram uma medicação adicional para deixar em baixo da língua. Mais algumas horas e eu sai do hospital com a pressão 14 por 11. O meu normal é 11 por 7.

Bruno ligou algumas horas depois e disse que continuaria monitorando minha reação por mais 48 horas, e foi assim mesmo que fez. E só depois de dois dias minha pressão voltou ao normal.

Se não fosse a ação do Centro de Toxicologia, eu não estaria aqui para contar esta história

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Pisco, o boxer com rabo

Entrei na pet shop para comprar guloseimas para Tupã. Meu querido dog resultado de cruzamento de boxer com fila. Adotei assim que desmamou, estava agora com oito meses. Passava o dia sozinho e eu tinha planos de adotar outro cachorrinho para fazer companhia a ele.

Na pet shop havia um cachorrinho boxer com cerca de três meses à venda. Pobrezinho, estava só. A dona da loja disse que ele estava “encalhado” porque tinha rabo. Como vocês sabem, é comum a mutilação de rabo e orelhas em determinadas raças em nome de um certo padrão estético. Sou contra.
Ela foi logo avisando que cortaria o rabo do filhote porque assim ele teria mais chances de ser comprado.

Mas esse tipo de mutilação é feito quando o cachorrinho tem poucos dias de vida. Com três meses é arriscado, pode infecionar e não cicatrizar.
Enquanto ela falava entraram na loja uma senhora e a filha, o boxer da família ficou no carro, muito bem sentado no banco do carona.  A senhora também achou um absurdo o boxer ser mutilado naquela idade.

De nada adiantaram nossos protestos.
Então, num impulso, eu comprei o cachorrinho para salvar sua vida. E também o seu rabo. Nunca havia comprado um cachorro. Todos os que tive foram da família, apareceram lá em casa ou alguém dava para o meu pai. Quando mudei para Brasília com minha filha também ganhei dois cachorros e depois um gato.
Tupã foi adotado e agora este, que ficou com o nome provisório de Pajé enquanto eu pensava em um nome melhor, foi comprado e não viveu o suficiente para curtir a nova casa e seu próprio rabo.
No outro dia o bichinho comeu pouco, não ficava firme em pé e também não conseguia sentar. Mas era carinhoso e buscava o meu colo. 48 horas depois da compra era óbvio que ele tinha algum problema de saúde. Levei de volta na pet shop porque a dona era veterinária e pensei que teria um diagnóstico rápido e um tratamento idem. Ele ficou internado em observação.


Voltei no outro dia, Pajé estava mais fraquinho, fiquei com ele no colo, passeamos no Sol e o levei de volta para a veterinária. Morreu no outro dia. Até hoje não sei do que ele morreu e me arrependo tremendamente de tê-lo levado lá. Deveria ter procurado outra clínica.
Dois dias depois, alguém me liga da pet shop para dizer que “meu outro boxer” estava na loja esperando por mim. O que? Era isto mesmo, já que Pajé havia morrido, um irmãozinho dele foi escalado para substituí-lo. Fiquei com dó e fui lá buscá-lo. Tinha rabo. Era esperto, andava por tudo e acabou entrando em um pacote de ração. Na loja ele estava com o nome provisório de Príncipe, chamei de Pisco.
Pisco e Tupã demoraram um tempão pra fazer amizade. Pisco vivia com as orelhas arranhadas. Até o dia em que percebeu que crescera mais do que Tupã e resolveu encarar. Hoje são amigos, um faz companhia para o outro. Pisco é muito carinhoso e brincalhão, ao contrário de Tupã, que é reservado e discreto.
E foi assim que, para salvar um rabo, eu conheci a breve vida de Pajé e aprendi a praticar lutinhas com o Pisco. Como vocês sabem, a raça se chama boxer porque adora dar socos e tapas com as patas dianteiras.

Na foto ao alto, Pisco e seu rabo. Abaixo, Pisco lambe o ar, com Tupã ao fundo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A juruva e a jiboia

Nunca tinha visto uma Juruva Canela. E quando vi pensei que era uma galinha verde. Foi o que me passou pela cabeça quando vi o enorme pássaro ciscando no vaso para reciclagem de material orgânico colocado no quintal, perto da porta da cozinha. Ambas levamos um susto. No outro dia, ela voltou e eu vi que estava diante de um pássaro lindo, grande como uma pomba, com predominância da cor verde em suas penas, peito laranja com uma manchinha preta que parece um coração, cabeça vermelha, uma máscara negra em torno dos olhos e uma longa cauda verde e azul. Mais linda impossível.

Nessa época, verão de 2009, eu estava sem câmara fotográfica e não tinha como fazer um flagrante do pássaro. Prestei muita atenção e fiz um desenho. Pesquisando no livro do ornitólogo Johan Dalgas Frisch, comparei o meu desenho com o da publicação e desconfiei que pudesse ser a Juruva Canela, que não é comum no Cerrado, predominando na Mata Atlântica.


A certeza chegou com a descrição feita pelo amigo Silvestre Gorgulho em um jantar entre amigos. Ela tinha no carro o livro e o relógio ilustrado com pássaros, de Dalgas, e foi lá buscar no porta-malas. Veja se não é a Juruva? Perguntou. – Era!

Desde então ela me visita. Não faltou um dia. Come as frutas que coloco num comedouro improvisado, junto com sabiás, periquitos, bem-te-vi, pica-pau, pomba do Cerrado, rolinhas e uma infinidade de outros pássaros lindos e coloridos que eu não sei a espécie.

No ano passado ela surgiu ao lado de outra Juruva. Conclui que era um casal. E, logo depois, uma terceira Juruvinha, apareceu. Só poderia ser o filhote. Nunca consegui fotografar as três ao mesmo tempo.  Este ano a surpresa foi maior. Quatro Juruvas! O casal trouxe dois filhotões para eu conhecer e pude assistir da janela da cozinha – meu ponto de observação, o desenvolvimento da prole. Chegaram sem saber voar direito, com a cauda bem menor que a dos pais e recebendo comida direto no bico. O show durou duas semanas. Na terceira semana observei a mãe (ou o pai) deixá-los sozinhos no comedouro e eles, bem desajeitados, pegaram as frutas com o próprio bico.

Muito lindo. Agora as quatro estão do mesmo tamanho e já não sei quem são os adultos e quem são as crianças.

O susto! Outro dia, 6h30 da manhã, estou eu a dar comida para o passaredo quando a árvore dos cipós sacode violentamente e os pássaros voam e gritam. O que era? Uma jiboia enroscada no galho da árvore abocanhou um pássaro, acho que foi um sabiá, e o levou para o abraço da morte.

Corri e peguei a câmara fotográfica. Fiz uma sequência de fotos sem pensar. Quando baixei o arquivo, lá estava a jiboia, o pezinho do pássaro fora do abraço fatal e depois ela engolindo a presa. É natureza, pensei. Comeu, vai jiboiar e vai embora. Não foi, passou o dia. Eu de plantão, só pensava nas Juruvas. E não é que a bandida conseguiu dar o bote em uma das juruvas. Foi salva a tempo. Um vizinho, verdadeiro herói, e um funcionário do condomínio onde moro conseguiram soltar a Juruva do abraço da jiboia e ela saiu voando e gritando.

A jiboia foi levada para outra área. Fiquei dois dias sem saber se ela havia sobrevivido. Via só três Juruvas. Mas no terceiro dia vi as quatro ao mesmo tempo. Foi um alívio. Elas são as joias do meu quintal, rainhas do meu bioma particular no Cerrado, em Brasília.

sábado, 4 de agosto de 2012

A história de Lady e seus filhotes

O acesso principal para a Anvisa, no SIA, estava congestionado, resolvi dirigir por trás da Cinfel, entrando pelas vias do Pró-DF. Assim que cheguei na ruela uma cadelinha simpática saiu de um lote seguida por nove filhotinhos. Parei o carro para não atrapalhar. No portão do terreno, aparentemente baldio, estava um senhor que logo gritou:

- Pegue um, pegue dois, leve os cachorrinhos, eles vão acabar morrendo.

E a cadelinha olhando pra mim com cara de quem pedia ajuda.

Agradeci a oferta. Respondi que não poderia levar os filhotes mas que voltaria no outro dia para entregar um pacote de ração.

- Amanhã eu não estou aqui, venha depois de amanhã, disse o senhor. E chamou a cadelinha e os filhotes para dentro, fechando um velho portão de ferro branco. O lote era cercado por tábuas, mas havia várias aberturas na cerca.

Voltei, conforme combinado, com um saco de ração. Não eram mais nove filhotes, eram sete.
Alguém havia levado dois. A cachorrinha veio ao meu encontro sacudindo o rabo e logo deitou de barriga pra cima, pedindo carinho. Os filhotes eram arredios, mas quando coloquei a ração no pote todos se aproximaram para comer.

O vigia do terreno chamava-se Benedito e havia uma disputa judicial pelo lote. Ele ficava lá para evitar uma possível ocupação do espaço por uma comunidade de catadores de papel, logo em frente. Contou que a cachorrinha fora levada para lá ainda filhote pelo vigia anterior e que não tinha nome. Chamei de Lady, ela era uma gentileza só, o nome parecia apropriado.

Durante um mês, dia sim dia não, fui no lote na hora do almoço ver como estava Lady e os filhotes e levar ração, água e pomada cicatrizante para curar o estrago feito pelas moscas nas orelhinhas de Lady. Ela deixava passar o remédio mas não gostava, sumia logo depois.

Convenci colegas do meu trabalho a me acompanharem nesta missão. Em uma dessas ocasiões, pedi que Pablo pulasse o portão, com cadeado nesse dia, para colocar água e ração para a turminha. Nos dias em que viajei, os colegas me substituíram na tarefa. Assim soube, por telefone, que a disputa pelo lote chegara ao fim, com perda para quem pagava o salário do vigia e seu Benedito não estava mais lá. Mas eu tinha o celular dele e liguei pra ter notícias. Ele foi transferido para uma obra em Sobradinho e não iria mais no lote.

Pobre Lady, com três anos estimados, estava acostumada a ter uma pessoa que olhasse por ela e pelos filhotes. Era a segunda ninhada, da primeira todos morreram contou seu Benedito.

Então resolvi assumir Lady e os filhotes. Procurei a ProAnima, que publicou anúncio com foto para que Lady e quatro dos filhotes restantes fossem adotados: duas fêmeas e dois machos. Nada. Fiz campanha nas redes sociais e com os amigos, pessoalmente, nada. Eu não podia levá-los, já tenho dois dogs e eles são muito ciumentos, sendo que um deles é brabo.

Soube que um veterinário atendia cães e gatos de rua pelo preço de custo para cirurgia de castração, na 413 Sul. Imaginei que isto seria bom para o grupo, já que evitaria uma nova prenhez para Lady e os filhotes, agora com 3 meses e apenas duas, os machos sumiram. Não os vi durante uma semana, imaginei que alguém tivesse adotado.

Marquei a cirurgia para um sábado e fui com meu marido pegar Lady e as meninas. Quando cheguei no lote ela estava do lado de fora, esperando. Entrei no lote e tive um choque, os dois machinhos estavam lá, mortos, com moscas. O que teria acontecido? Penso que alguém os pegou, já doentinhos, e eles morreram.  Quem pegou não sabia o que fazer com os bichinhos mortos e levou de volta. Muito triste.

Lady olhou para mim e parecia pedir: me tire daqui. Coloquei no bagageiro junto com as filhotes: Capitu, a pretinha, que seria adotada por uma colega, e Estrela, que ainda não tinha um lar.
Lady foi toda feliz no carro, parecia que sempre havia viajado. Me lambeu agradecida. As bebês vomitaram muito. Fizeram a cirurgia. Havia uma fila enorme de cães e gatos resgatados das ruas levados por protetores para a clínica do dr. Caetano.

De tarde fui buscar a turminha. Lady e Estrela seguiram para o abrigo Flora e Fauna, uma chácara no Gama, onde aguardam adoção, e Capitu foi para o colo de Luciana em uma casa em Sobradinho II. Lady e Estrela seriam levadas para a Feira de Adoção da 108 Sul no próximo sábado. Desejo muito que tenham encontrado um lar. Capitu, minha afilhada, já recuperada da cirurgia e do trauma da separação da mãe e da irmã, brinca feliz na casa de Luciana.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Com quantos amigos se constrói uma vida?

Maneco, Português, Tamanini e Gago entram juntos no quarto do hospital e anunciam a visita ao amigo Névio Turcato, 84 anos. Nós, os três filhos, não conhecíamos nenhum deles. Por décadas meu pai manteve um encontro semanal com o grupo numa rotina que chamavam de “roda de amigos do cafezinho da rua da Praia”. Maneco é o aposentado mais novo e foi o último a se juntar ao grupo. Tamanini é primo-irmão do meu pai mas só se aproximaram na maturidade, Português e Gago são colegas do tempo em que trabalhavam em laboratório farmacêutico. Meu pai foi gerente de laboratório por muitos anos em Porto Alegre.

Maneco avisa: fiz promessa para o padre Reus. Assim que tu estiveres bem, Turcato, tu vais comigo pagar a promessa. Lembra que fiz a mesma promessa quando operastes o coração há dois anos? Fomos juntos pagar.

Getúlio Lobo é outra visita interessante. Disse que conheceu Turcato aos 22 anos contratado por ele em seu primeiro emprego no laboratório Andrômaco, mexicano. Meu tinha 34 anos.
Ficaram amigos para sempre. Alguns anos depois Lobo foi estudar Direito e tem escritório de advocacia. Revelou que foi ele quem fez o inventário da minha mãe quando ela morreu há 14 anos. Minha filha Letícia estava junto neste momento e ele ficou confuso, achou que ela era eu. Seria ótimo, o tempo não teria passado para mim, só para o mundo. Foi embora chamando Letícia de Márcia 2, prometeu voltar no noutro dia.


Um homem alto, de quase dois metros, abriu a porta do quarto 1.208 A do Hospital Santa Clara, na Santa Casa, e fechou rapidamente, fez uma cara entre surpreso e assustado. Tornou a abrir e perguntou: este é o Névio? Sim, é o Névio. Então ele contou que se chamava José Eduardo Fossati e que conheceu o Turcato quando tinha 19 anos, agora tem 59, era estagiário em uma empresa de engenharia onde meu pai era fornecedor de alguns produtos, trabalho que assumiu depois de sair dos laboratórios farmacêuticos.


-Eu era um estagiário de merda, não sabia nada. Quando conheci o Névio foi uma simpatia muito grande logo de cara. Abri minha própria empresa ao meu formar em Engenharia e o Turcato passou a fornecer material para mim. Nunca mais nos separamos. Ele foi no meu casamento e depois passamos uns 20 anos trabalhando em atividades do Grupo de Casais da Igreja. A tua mãe –Terezinha- também era espetacular, mas o teu pai sempre teve muito carisma, sempre foi muito espirituoso, vivia contando piada e sempre tinha uma palavra de apoio para todos.

Fossati vai embora prometendo voltar no outro dia. Voltou. A esposa dele, Marina, também apareceu no hospital.

E teve o dia dos Mários. Primos-irmãos com o mesmo nome. Para diferenciar, um deles é chamado de Marinho e o outro de Beto. Marinho diz que tem 71 anos e que fez a farda do quartel com o meu avô Ernesto, alfaiate no bairro Bom Fim, pai do meu pai, morto aos 59 anos em um enfarto fulminante. Era viúvo de minha avó Alzira, que morreu de tuberculose quando meu pai tinha sete anos. Foi criado pela tia Olívia, junto com os cinco primos, que viraram irmãos. E ainda tem um meio irmão, o Beto, filho da segunda esposa do meu avô, a vó Zita.

Beto e a esposa Mariú foram ao hospital logo que souberam da internação. Depois de ajudar as enfermeiras em um procedimento com o meu pai, Mariú, cansada, encostou na divisória que resguarda o paciente do leito ao lado, pensando que era parede, e tudo veio a baixo. Resultado? Ao ser erguida do chão estava com uma fratura no pulso. As enfermeiras correram com uma cadeira de rodas e ela foi levada para a emergência do Pronto Socorro Municipal, porque no Santa Clara não tem traumato.

Antes disto, quando meu pai ainda fazia exames para diagnosticar a causa da perda de peso repentina, acompanhada de enjôo e dor nas costas, minha cunhada Léo, esposa do Victor, se ofereceu para acompanhá-lo. Nenhum dos dois sabe explicar como, mas acabaram tropeçando na rua. O pai bateu com o rosto no chão, fazendo um pequeno corte no supercílio, e ela rompeu os ligamentos do pé direito. Ela chega para a visita no hospital amparada em muletas.

Minha outra cunhada, Verônica, nossa argentina gaúcha, esposa do João Luis, também está presente em todas as horas. O filho João Victor, neto mais novo de 11 anos, a acompanha. E tem o Augusto, filho de Léo e Victor, atento a todas as necessidades do avô, tentando decifrar suas palavras quando quase inaudíveis e contando as novidades do Inter. Um uruguaio acabou de ser contratado pelo time do coração do meu pai. Augusto é gremista.

O casal Mário Araújo e sua esposa Maria Luiza é outra visita querida. São compadres recíprocos de casamento. Mário lembrou que meu pai gosta de distribuir bombons para as enfermeiras e traz mais uma caixa de chocolates. A que levamos mais cedo já estava no fim. As enfermeiras gostam do agrado que humaniza a relação e chamam meu pai de vozinho. Estão encantadas com a cabeleira branca e farta do vô Turcato.

E ainda teve a visita diária da nova família que meu pai ganhou ao conhecer a Vera em um baile para idosos. Companheira desses últimos anos. Com Vera ele ganhou uma cunhada, novos filhos, novos netos, novos primos, sobrinhos e vizinhos que se revezam no hospital levando seu carinho, além da turma do baile.

Eu não presenciei o restante das visitas, mas meus irmãos contam que é um entra e sai durante o dia todo, só termina às 20 horas, quando as portas do hospital fecham. Oito décadas de uma vida carinhosa e honrada constroem amizades incontáveis, de todas as gerações. Uma dádiva eterna.