domingo, 27 de janeiro de 2013

Sinto falta

Sábado à noite dei um beijo nos meus dogs e disse: o vovô vai ligar daqui a pouco e perguntar como estão vocês. Foi um pensamento rápido, logo lembrei que meu pai morreu no meio de 2012. Até então era assim, todo o fim de semana ele ligava de Porto Alegre para mim, que vivo em Brasília desde 1988, falava um pouco de tudo, contava piadas como sempre e perguntava pelos “meninos”, Tupã e Pisco, meus queridos doguitos.
 

Desde que mudei para Brasília havia um telefonema no fim de semana. No começo, eventual, porque as ligações eram muito caras. Nesta época era mais comum minha mãe mandar um farto Sedex cheio de coisas que ela achava que me interessariam: recortes do jornal gaúcho Zero Hora, livros de autores locais, fotos e alguns bilhetes.

Depois que minha mãe morreu, em 1998, vítima de um câncer veloz, meu pai passou a telefonar todo o fim de semana. Se eu não estava, deixava recado na secretária eletrônica. Raramente ligava no celular porque achava que era muito invasivo, apesar de não utilizar esta palavra.

Eu ligava de volta depois. Ele falava sobre os meus irmãos e a rotina da casa, as caminhadas pelo bairro, a namorada, que virou companheira fiel até os seus últimos dias, também vitimado por um câncer em 30 dias, as novas netas e terminava, como sempre, contando piadas ouvidas no baile dos idosos. Ele sempre foi bom pra contar piadas, nunca esquecia a história.

E agora, eu já passada dos 50, percebo que não tenho mais mãe e nem pai. É muito estranho. Tenho irmãos e filha, e meus amados doguitos, mas não é a mesma coisa. Não ter mãe e nem pai coloca você na condição de órfão. E isto faz com que você deixe de ser filho de alguém.

Hoje, sábado à noite, estou sentindo falta do telefonema que sei que não vou receber. Nem amanhã, domingo, e nem nunca mais.

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