sábado, 4 de agosto de 2012

A história de Lady e seus filhotes

O acesso principal para a Anvisa, no SIA, estava congestionado, resolvi dirigir por trás da Cinfel, entrando pelas vias do Pró-DF. Assim que cheguei na ruela uma cadelinha simpática saiu de um lote seguida por nove filhotinhos. Parei o carro para não atrapalhar. No portão do terreno, aparentemente baldio, estava um senhor que logo gritou:

- Pegue um, pegue dois, leve os cachorrinhos, eles vão acabar morrendo.

E a cadelinha olhando pra mim com cara de quem pedia ajuda.

Agradeci a oferta. Respondi que não poderia levar os filhotes mas que voltaria no outro dia para entregar um pacote de ração.

- Amanhã eu não estou aqui, venha depois de amanhã, disse o senhor. E chamou a cadelinha e os filhotes para dentro, fechando um velho portão de ferro branco. O lote era cercado por tábuas, mas havia várias aberturas na cerca.

Voltei, conforme combinado, com um saco de ração. Não eram mais nove filhotes, eram sete.
Alguém havia levado dois. A cachorrinha veio ao meu encontro sacudindo o rabo e logo deitou de barriga pra cima, pedindo carinho. Os filhotes eram arredios, mas quando coloquei a ração no pote todos se aproximaram para comer.

O vigia do terreno chamava-se Benedito e havia uma disputa judicial pelo lote. Ele ficava lá para evitar uma possível ocupação do espaço por uma comunidade de catadores de papel, logo em frente. Contou que a cachorrinha fora levada para lá ainda filhote pelo vigia anterior e que não tinha nome. Chamei de Lady, ela era uma gentileza só, o nome parecia apropriado.

Durante um mês, dia sim dia não, fui no lote na hora do almoço ver como estava Lady e os filhotes e levar ração, água e pomada cicatrizante para curar o estrago feito pelas moscas nas orelhinhas de Lady. Ela deixava passar o remédio mas não gostava, sumia logo depois.

Convenci colegas do meu trabalho a me acompanharem nesta missão. Em uma dessas ocasiões, pedi que Pablo pulasse o portão, com cadeado nesse dia, para colocar água e ração para a turminha. Nos dias em que viajei, os colegas me substituíram na tarefa. Assim soube, por telefone, que a disputa pelo lote chegara ao fim, com perda para quem pagava o salário do vigia e seu Benedito não estava mais lá. Mas eu tinha o celular dele e liguei pra ter notícias. Ele foi transferido para uma obra em Sobradinho e não iria mais no lote.

Pobre Lady, com três anos estimados, estava acostumada a ter uma pessoa que olhasse por ela e pelos filhotes. Era a segunda ninhada, da primeira todos morreram contou seu Benedito.

Então resolvi assumir Lady e os filhotes. Procurei a ProAnima, que publicou anúncio com foto para que Lady e quatro dos filhotes restantes fossem adotados: duas fêmeas e dois machos. Nada. Fiz campanha nas redes sociais e com os amigos, pessoalmente, nada. Eu não podia levá-los, já tenho dois dogs e eles são muito ciumentos, sendo que um deles é brabo.

Soube que um veterinário atendia cães e gatos de rua pelo preço de custo para cirurgia de castração, na 413 Sul. Imaginei que isto seria bom para o grupo, já que evitaria uma nova prenhez para Lady e os filhotes, agora com 3 meses e apenas duas, os machos sumiram. Não os vi durante uma semana, imaginei que alguém tivesse adotado.

Marquei a cirurgia para um sábado e fui com meu marido pegar Lady e as meninas. Quando cheguei no lote ela estava do lado de fora, esperando. Entrei no lote e tive um choque, os dois machinhos estavam lá, mortos, com moscas. O que teria acontecido? Penso que alguém os pegou, já doentinhos, e eles morreram.  Quem pegou não sabia o que fazer com os bichinhos mortos e levou de volta. Muito triste.

Lady olhou para mim e parecia pedir: me tire daqui. Coloquei no bagageiro junto com as filhotes: Capitu, a pretinha, que seria adotada por uma colega, e Estrela, que ainda não tinha um lar.
Lady foi toda feliz no carro, parecia que sempre havia viajado. Me lambeu agradecida. As bebês vomitaram muito. Fizeram a cirurgia. Havia uma fila enorme de cães e gatos resgatados das ruas levados por protetores para a clínica do dr. Caetano.

De tarde fui buscar a turminha. Lady e Estrela seguiram para o abrigo Flora e Fauna, uma chácara no Gama, onde aguardam adoção, e Capitu foi para o colo de Luciana em uma casa em Sobradinho II. Lady e Estrela seriam levadas para a Feira de Adoção da 108 Sul no próximo sábado. Desejo muito que tenham encontrado um lar. Capitu, minha afilhada, já recuperada da cirurgia e do trauma da separação da mãe e da irmã, brinca feliz na casa de Luciana.

3 comentários:

  1. Todos nós acompanhamos a saga da Lady e seus filhotinhos.Tomara que já estejam quentinhos em suas casas novas!

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    1. Roberta: Você ajudou a salvar esta família, todos são muito gratos!

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  2. Elas devem estar bem e felizes, com certeza! Adorei o blog :)

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