Todos perdem com a ditadura
Fabico/UFRGS realiza evento com a participação da
presidenta da Comissão Memória e Verdade
O 6º Ciclo de Seminários Arquivos, Memória e Direitos Humanos encerrou na noite de quinta-feira (11), no Auditório II da Fabico- Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação com palestra da professora Roberta Baggio, presidenta da Comissão Memória e Verdade (CMV) Enrique Serra Padrós da UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O tema escolhido pelas alunas foi “A Memória da Ditadura pelos Olhos do Jornalismo”, com coordenação do professor do curso de Arquivologia Jorge Eduardo Enriquez Vivar.
O encontro, que coincidiu com o aniversário de um ano da Comissão Memória e Verdade, abriu com um painel apresentado pelas alunas destacando o papel da imprensa na cobertura do período ditatorial, mesmo sob forte censura. No entanto, salientaram que os grandes veículos, inicialmente, apoiaram o golpe militar de 1964. Vários jornais e revistas foram retirados das gráficas e dos pontos de venda durante o período de arbítrio que se estendeu até 1985.
O auditório da Fabico, ocupado majoritariamente por jovens, foi descobrindo aos poucos que a ditadura perseguiu estudantes, funcionários e professores da universidade, culminando com a expulsão e a exoneração de dezenas de pessoas. E fora do espaço acadêmico, prendeu, torturou e assassinou centenas de pessoas que se opuseram à ditadura, como ocorreu com o jornalista Vladimir Herzog, assassinado em 1975, em São Paulo, quando se apresentou para depor. Em honra a Herzog, 50 anos após seu assassinato, ex-estudantes da Fabico recolocaram, neste ao de 2025, a placa com seu nome no diretório acadêmico. Placa que havia sido retirada pela repressão em 1975.
Após a apresentação do painel das alunas, a professora Roberta Baggio iniciou sua fala afirmando que “desvelar o papel da ditadura dentro da universidade é a missão da Comissão Memória e Verdade”. Ela explicou que a Comissão da UFRGS foi uma das últimas a ser criada no Brasil no âmbito do espaço acadêmico. Essa era uma recomendação do Ministério Público Federal e que vinha sendo protelada. Com a eleição e a posse da reitora Márcia Barbosa, em 27 de setembro de 2024, a Comissão pode, finalmente, ser criada e sua instalação aconteceu em dezembro. Agora, em 2025, a Comissão completou um ano.
A professora Baggio elogiou a relevância do evento e a iniciativa das alunas e do professor Jorge Eduardo Enriquez Vivar “porque este é um encontro geracional. É importante que as novas gerações saibam que a ditadura foi nefasta para toda a Nação, não foi apenas no ambiente universitário. Todos perdem na ditadura”. Ela disse ainda que “temos uma dívida moral com as pessoas daquela época, que viveram no período da ditadura e a enfrentaram”.
A Comissão Memória e Verdade é formada por nove mulheres e tem duas grandes frentes de trabalho. Uma delas é organizar os arquivos documentais, realizando visitas a várias unidades da UFRGS. A CMV esteve na Fabico, onde o material está bem organizado. Outra frente, é a de testemunhos, que também conta com o apoio técnico da Fabico. Estão sendo gravados testemunhos com sobreviventes da ditadura, são ex-alunos, ex-servidores e ex-professores que foram perseguidos, expulsos ou banidos.
A presidenta da Comissão revelou que “gostaria que a UFRGS tivesse vários marcos para assinalar os espaços de resistência à ditadura, como é o monumento em homenagem ao professor Enrique Serra Padrós e que empresta seu nome à Comissão”. O monumento fica próximo à Reitoria. “E a placa com o nome do jornalista Vladimir Herzog, recolocada no diretório acadêmico da Fabico 50 anos após o assassino do jornalista por agentes da ditadura”, destacou Baggio.
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