sexta-feira, 7 de novembro de 2025

 A presidenta, a miss e as meninas do Brasil

Claudia Sheinbaum, 63 anos, é a presidenta do México. No dia quatro de novembro ela foi assediada por um homem que tentou beijá-la e passou a mão no seu seio. O abuso aconteceu na rua, no Centro Histórico da cidade do México, à luz do dia, quando a presidenta se dirigia ao Ministério da Educação Pública, cercada por eleitores. Fátima Bosch, 25 anos, Miss México, foi humilhada em público em evento na Tailândia, também no dia quatro, pelo diretor do Miss Universo 2025. No Brasil, 26.399 meninas entre 10 e 14 anos vivem em união conjugal, revelou o censo do IBGE, realizado em 2022 e divulgado no dia seis de novembro, e todas elas engravidaram, ou seja, foram estupradas.

O que há em comum entre esses três fatos? Eles mostram que não importa a idade, a nacionalidade e o continente, a mulher é importunada, assediada, agredida, humilhada e estuprada por homens que contam com o suporte estrutural da sociedade. O IBGE, na falta de um vocábulo, classificou a união das crianças e adolescentes como “união consensual”, quando sabemos que isso não existe. Essas meninas não são maiores de idade, elas estão na faixa etária da vulnerabilidade. Portanto, essa “união consensual” é estupro, é violência. A menina é retirada das brincadeiras de infância e da vida escolar por um homem que a explora de todas as formas e a faz assumir o papel de esposa, de mãe, de cuidadora, de cozinheira e de faxineira.  

Sem ter acesso à educação escolar e ao convívio com outras crianças, as meninas perpetuam a ignorância e a feminização da pobreza. É exatamente essa situação que parlamentares do Congresso Nacional querem manter para assegurar um mercado de mão-de-obra barato, ignorante de seus direitos civis e de seus direitos reprodutivos. Para conseguir seu objetivo, deputadas e deputados do campo mais atrasado da política aprovaram o PDL 3/2025, que ficou conhecimento como Projeto de Decreto Legislativo da Pedofilia, de autoria da deputada Chris Tonietto (PL-RJ), que pretende cancelar a Resolução 258/2024 do Conanda- Conselho Naconal dos Direitos da Criança e do Adolescente, que assegura o direito a interrupção da gravidez de meninas vítimas de estupro, quando sabemos que criança não é mãe e estuprador não é pai.

Mas o PDL é ainda mais cruel. Ele pretende que as meninas não recebam informações sobre seus direitos e que o governo federal não promova ações contra as tais de “união consensual”, ou seja, o casamento infantil, que é o estupro autorizado. Por ser um PDL, caso o projeto seja aprovado no Senado, não poderá ser vetado pelo presidente da República. A matéria foi aprovada por 317 votos, com 111 votos contrários. Desnecessário  dizer que o Congresso é formado majoritariamente por homens. A Câmara tem 513 parlamentares, desse total, apenas 91 são mulheres, 422 são homens.

Entre 2013 e 2023, 232 mil meninas entre 10 e 14 anos tiveram filhos. Se elas engravidaram, isso é estupro de vulnerável. Mas o Congresso Nacional, ao invés de tratar esse crime como crime, prefere culpabilizar a menina e obrigá-la a ser mãe, a não ter acesso à escola, a não ter acesso à informação, a perpetuar a miséria, a dar prosseguimento a feminização da miséria e a gerar um batalhão de mão-de-obra barata para sustentar os mimos do capitalismo e pagar as contas desses deputados e deputadas que não querem um futuro para a infância do Brasil.


 Filme mostra conexão entre regimes autoritários na América do Sul


“O Condor e a Névoa” é documento cinematográfico que confirma participação dos Estados Unidos no golpes de Estado



O premiado diretor de cinema argentino Maximiliano Gonzalez participa da exibição de seu filme, “O Condor e a Névoa”, dia 10 de novembro, segunda-feira, às 19h, no Sindicato dos Bancários (rua General Câmara 424, Porto Alegre). Logo após, haverá uma conversa com a plateia com a participação do jornalista e mestre em História Nilson Mariano, mediada por Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), que promove o evento.


“O Condor e a Névoa” conta a história de homens e mulheres que deram suas vidas em defesa da democracia e da soberania de suas nações. O filme começa no ano de 1973, quando chegaram a Argentina, em situação de exílio, João Goulart, presidente do Brasil, Juan José Torres, presidente da Bolívia, e o senador Zelmar Michelini do Uruguai, todos vítimas de golpe militar.


O filme avança até o ano de 1992, quando foram identificados no Paraguai os “Arquivos do terror”, provando que havia uma parceria entre as ditaduras latino americanas, que contava com apoio dos Estados Unidos, para perseguir e assassinar militantes políticos e a todos que se opunham aos golpes de Estado.


Arquivos do terror


Os “Arquivos do Terror” são uma coleção de documentos que descrevem diversas atividades ilícitas realizadas por agentes da repressão durante a ditadura militar de Alfredo Stroessner, de 1954 a 1989, no Paraguai. Os documentos foram encontrados em uma delegacia de polícia de Lambaré, subúrbio da capital paraguaia, Assunção, no dia 22 de dezembro de 1992, pelo advogado e ativista de direitos humanos, Martín Almada e pelo juiz José Augustín Fernández.

O juiz José Augustín Fernández e o professor e advogado Martín Almada pesquisavam arquivos sobre um ex-prisioneiro político na delegacia de Lambaré quando encontraram documentos sobre o destino de milhares de latino-americanos que haviam sido sequestrados, torturados e mortos pelos serviços de segurança da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai com a cooperação da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, um  esquema que ficou conhecido como Operação Condor.

Os arquivos contém números assustadores: 50 mil  pessoas assassinadas, 30 mil dadas como desaparecidas e 400 mil presas. Os documentos também revelaram que outros países, como Colômbia, Peru e Venezuela, cooperaram com a Operação Condor fornecendo informações às ditaduras do Cone Sul e aos agentes dos Estados Unidos. 

Maximiliano Gonzalez


O diretor Maximiliano Gonzalez nasceu na província de Misiones, na Argentina. Concluiu seus estudos em Puerto Iguazú antes de se mudar para Rosário para estudar na Escola de Cinema. Em seguida, recebeu uma bolsa de estudos da Escola Nacional de Cinema de Buenos Aires (ENERC). Seus roteiros receberam inúmeros prêmios e seus filmes conquistaram reconhecimento em festivais de cinema nacionais e internacionais. Como diretor e roteirista, realizou: “Quiero Volverme Tiempo (Víctor Heredia & Latinoamérica)” (2023), e “Lejos de Peking” (2020), entre outros. 


Gonzalez também é o diretor da série “La Muerte de un Presidente”, sobre o ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964. Organizado em seis capítulos, a série conta o final da vida do líder trabalhista e estreou em 2020 na Argentina. O ex-presidente do Brasil viveu na Argentina os últimos anos de sua vida, de 1973 a 1974, em uma fazenda próxima a Buenos Aires. A produção demandou cerca de dois anos para preparação e conclusão.

Nilson Mariano


Nilson Mariano é graduado em Jornalismo e mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Publicou livros em português e espanhol sobre a Operação Condor, revelando o pacto secreto entre as ditaduras militares do Cone Sul. Entre as premiações que obteve como repórter estão o Prêmio Nacional Esso de Jornalismo (2013), mais cinco Essos regionais, o Vladimir Herzog de Direitos Humanos, dois da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), World Association of Newspaper (WAN), Embratel, Associação Rio-grandense de Imprensa (ARI) e Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH). Também é co-autor em quatro livros de reportagens.


Mariano é Cidadão Emérito de Porto Alegre, "Jornalista Amigo da Criança" (Andi/Unicef) e Prêmio Direitos Humanos Rio Grande do Sul (2000). Participou de quatro coletâneas organizadas por professores da PUCRS e da UFRGS sobre regimes autoritários. Nasceu em Candelária (RS), atuou como repórter nos jornais Zero Hora e Folha da Tarde por 35 anos. 





terça-feira, 4 de novembro de 2025

 Livro “A empáfia da covardia” é argumento contra a anistia para golpistas


O Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) e a Associação de Ex-presos e Perseguidos Políticos/RS lançaram o livro “A empáfia da covardia”, organizado por Omar Ferri e Jair Krischke e publicado pela editora BesouroBox. O livro é uma importante contribuição jurídica e histórica para ser adicionada à lista de argumentos contra a anistia aos réus da tentativa de golpe de Estado em 08 de janeiro de 2023. A publicação está organizada em seções que abordam desde a ascensão de figuras políticas controversas, passando pela corrupção institucional, até chegar à luta pelos direitos humanos no Brasil. O lançamento do livro aconteceu em cerimônia na Assembleia Legislativa dia 28 de outubro.


A obra resgata os recentes eventos que revelaram o padrão de corrupção e desrespeito à democracia no Brasil, conduzidos pelo núcleo duro da presidência da República no período de 2019 a 2022, e que avançaram sobre o mês de janeiro de 2023 com a tentativa de golpe e o vandalismo na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. No dia 12 de dezembro de 2022, data da diplomação do presidente Luís Inácio Lula da Silva no Tribunal Superior Eleitoral, apoiadores de Bolsonaro já haviam tentado invadir a sede da Polícia Federal, além  de depredarem e incendiar um ônibus e um carro e promoverem uma baderna no centro da cidade, provocando o fechamento do comércio para evitar maiores danos.


Os autores da obra explicam que o objetivo é “registrar a inconstitucionalidade de qualquer lei que pretenda conceder anistia aos réus das criminosas ações adotadas na tentativa de golpe em 08 de janeiro; anistiar é um crime de lesa-pátria, é autorizar aquilo que a Constituição proíbe”. 


Os autores


Omar Ferri, advogado, ex-presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos e ex-procurador federal. Durante sua vida profissional, Ferri exerceu vários cargos públicos, entre eles o de vereador de Encantado e de Porto Alegre no período de 1990 a 1994, e foi procurador da Fundação Brasil Central no governo do presidente João Goulart. Ele foi preso duas vezes durante a ditadura. Ferri é autor do livro “Seqüestro no Cone Sul”, sobre o sequestro em Porto Alegre dos uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz, em 1978. Naquela ocasião, Omar Ferri atuou como advogado dos sequestrados.


Jair Krischke, historiador, é o fundador do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), em 1979. Ele foi colaborador do Acnur- Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Naquele período, a principal missão de Krischke com o MJDH era proporcionar asilo, ou exílio, às vítimas da perseguição política pelas ditaduras no Cone Sul. Estima-se que cerca de duas mil pessoas, perseguidas pelas ditaduras, tenham sido salvas graças a ação do MJDH. 


O livro “A empáfia da covardia” está disponível na sede do MJDH e pode ser solicitado via Instagram @mjdh O valor sugerido é R$ 40,00.


terça-feira, 7 de outubro de 2025

 Greta, uma adolescente na liderança do mundo


Greta Thunberg e Malala Yousafzai, jovens mulheres que lutam pela paz no mundo usando  a força da palavra. Malala recebeu o Nobel da Paz, agora é a vez de Greta.




Greta Thunberg deveria receber o Prêmio Nobel da Paz 2025. A ativista sueca de 22 anos mobiliza jovens e adultos desde os 12, quando iniciou a greve escolar das sextas-feiras, Fridays for Futures, em Estocolmo, capital do seu país, para protestar contra o aquecimento global e exigir dos governos ações de proteção ao meio ambiente.


Desde então, outras agendas com compromisso social também passaram a fazer parte das suas atividades. Ela já esteve na ONU- Organização das Nações Unidas, em 2018, onde fez um veemente discurso exigindo que os governantes de todo o mundo se comprometessem para mitigar os efeitos do aquecimento global para que os jovens possam ter um futuro.


E cobrou: “como vocês se atrevem”! ao afirmar na tribuna da ONU que os governantes estão acabando com a vida no planeta Terra, o que resultou numa reação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, então em seu primeiro mandato, que a chamou de “pirralha” e recomendou que fosse ao cinema para se distrair.


Mas a pirralha não se abalou. É ela quem organizou a Flotilha Global Sumud, para levar ajuda humanitária para a faixa de Gaza, que foi retida em águas internacionais por tropas de Israel. Uma segunda flotilha foi organizada, com a participação de ativistas de todo o mundo, entre eles 15 brasileiros. As embarcações foram novamente retidas no mar e todos os ativistas presos e posteriormente deportados.


Grata é, de fato, a única liderança no mundo que está lutando pela paz sem usar nenhuma arma de guerra. As armas dessa jovem guerreira são a palavra e a solidariedade. Exatamente o que fez outra jovem mulher, Malala Yousafzai, natural do Paquistão, vítima do talibã aos 12 anos de idade quando recebeu um tiro na cabeça porque ousou ir para escola, proibida para meninas.


Malala usou como arma pela paz a palavra e a educação. Ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2014, aos 17 anos. Foi a pessoa mais jovem a receber a láurea. As principais vozes em defesa da paz são duas mulheres jovens que têm a coragem de mudar o mundo e desafiar os governantes belicistas e contrários à ciência. 


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

 Ato em Porto Alegre pede Palestina livre e a libertação dos brasileiros


Manifestantes ocuparam as ruas centrais de Porto Alegre na noite de quinta-feira (02) para clamar por “Palestina livre”, pedir que o governo brasileiro rompa relações com Israel e exigir a libertação de todos os integrantes da frota que levava ajuda humanitária à faixa de Gaza. Quinze brasileiros estavam a bordo da Flotilha Global Sumud (GSF), interceptada por Israel no dia primeiro de outubro.


A manifestação começou às 18h em frente a Faculdade de Educação da UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul e seguiu até a área central da cidade. Organizada por estudantes, sindicalistas, professores e parlamentares do campo da esquerda, o ato reuniu cerca de um mil participantes e chamou a atenção de quem estava nas ruas, muitos aderiram ao protesto pacífico.


Desde a guerra de Israel contra a Palestina, em 2023, supostamente para combater o grupo extremista Hamas, cerca de 66 mil palestinos foram mortos e mais de 165 mil ficaram feridos, de acordo com informação do Ministério da Saúde de Gaza divulgada em setembro. Com o fechamento das fronteiras imposto pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o deslocamento forçado da população da faixa de Gaza, os palestinos ficaram sem os mínimos recursos, principalmente alimentos.


Diante da falta de ação das instituições internacionais, como a ONU- Organização das Nações Unidas e também dos países que se dizem contrários à ação de Israel em Gaza, 500 ativistas de 44 nações, liderados pela ambientalista sueca Greta Thunberg, organizaram uma frota formada por 40 pequenas embarcações para levar ajuda humanitária à população de Gaza, partindo da Espanha. No entanto, a frota foi detida quando se aproximava de águas territoriais controladas por Israel. Até o momento é desconhecido o paradeiro dos integrantes da frota. Esta é a segunda interceptação feita por Israel contra a ajuda humanitária levada pela flotilha pacifista.


Os brasileiros que fazem parte da frota são:


Thiago Ávila, ativista e integrante do Comitê Diretor da Global Sumud Flotilha (GSF), no barco Alma.


Luizianne Lins, deputada federal pelo PT, no barco Grand Blue.


Bruno Gilga, trabalhador da USP e correspondente do Esquerda Diário, no barco Sirius.


Lisiane Proença, comunicadora popular e atuante em causas socioambientais, no barco Sirius.


Magno Costa, integrante da Executiva Nacional da CSP Conlutas e diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, no barco Sirius.


Mariana Conti, vereadora do Psol em Campinas, no barco Sirius.


Nicolas Calabrese, professor de educação física e coordenador da Rede Emancipa, no barco Sirius.


Gabriele Tolotti, presidente do Psol-RS, no barco The Spectre.


Mohamad El Kadri, presidente do Fórum Latino Palestino e coordenador da Frente Palestina São Paulo, no barco The Spectre.


Ariadne Telles, advogada popular, no barco Adara.


Mansur Peixoto, criador e administrador do projeto História Islâmica, no barco Adara

Lucas Gusmão, ativista e internacionalista, no barco Yulara.


João Aguiar, ativista do movimento global para Gaza e Núcleo Palestina do PT-SP, no veleiro Mikeno.


Miguel de Castro, ativista e cineasta, no barco Catalina.


Hassan Massoud, jornalista correspondente da Al Jazeera.

Um comunicado da Global Sumud Flotilha diz que 12 brasileiros integrantes da frota estão em poder das autoridades de Israel e seu paradeiro é desconhecido. Sobre os outros três brasileiros não se tem notícia alguma e o ato é considerado sequestro praticado pelo governo de Benjamin Netanyahu. O governo brasileiro, por intermédio do Ministério de Relações Exteriores, cobrou explicações de Israel e tenta contato com os ativistas detidos.

Os organizadores classificaram a interceptação como “um ataque ilegal” a agentes humanitários. No próximo dia 07 de outubro a guerra de Israel contra Gaza completa dois anos. Nesta data, o grupo Hamas sequestrou cerca de 200 pessoas que participavam de um festival de música e matou dezenas de pessoas de uma comunidade próxima ao local. O ato deu início a uma resposta desproporcional de Israel, matando milhares de pessoas e destruindo a faixa de Gaza com ajuda dos Estados Unidos, fortalecida com a eleição de Donald Trump à presidência, que anunciou que vai transformar a faixa de Gaza em um resort de luxo.


segunda-feira, 29 de setembro de 2025

 Universidades gaúchas criam Rede de Comissões da Verdade


As universidades gaúchas avançaram no propósito de recuperar a verdade sobre os atos praticados pela ditadura nas décadas de 60 e 70 e mostrar como ela agiu dentro das universidades do estado para agredir a democracia e perseguir professores, funcionários e estudantes. Em reunião virtual realizada dia 11 de setembro as entidades criaram a Rede de Comissões da Verdade Universitárias do Rio Grande do Sul. A Rede tem o objetivo de construir um minucioso trabalho de recuperação da verdade sobre as atividades da ditadura no âmbito das universidades.


Pela Comissão da Memória e Verdade da UFRGS, participaram da reunião as professoras Roberta Baggio, Lorena Holzmann, Regina Xavier, Valéria Bertotti e Cristina Carvalho. Baggio, que preside a Comissão da UFRGS, apresentou uma proposta de primeiro passo para a interação entre as comissões da Rede e que será a pauta de trabalho até o final de 2026. Representantes das Comissões das universidades federais de Pelotas, Santa Maria e Rio Grande também participaram da reunião.


A proposta aprovada prevê compartilhar documentos, registros e depoimentos relacionados às violações de direitos humanos, disponibilizar o material em um site e envolver a comunidade universitária gaúcha na discussão sobre a ditadura para nunca esquecer e para que nunca mais se repita. 


Para Roberta Baggio “a criação da Rede de Comissões da Verdade das Universidades é um marco importante de cooperação institucional e reforça a luta por democracia nas universidades gaúchas”. A Comissão Memória e Verdade da UFRGS, que está ligada ao gabinete da reitora Márcia Barbosa, é um compromisso da universidade para a manutenção da autonomia da instituição  e para assegurar que eventos inconstitucionais nunca mais aconteçam.


Expurgo e tortura


Apenas na UFRGS, até o momento, está documentado que 37 professores foram demitidos ou afastados por se oporem à ditadura instalada no Brasil a partir do golpe em 1964, sofrendo ruptura na carreira profissional. Estudantes, especialmente os do movimento estudantil, também foram alvo de ações repressivas, com casos de perseguição, prisão e tortura, como do estudante de origem chinesa Peter Ho Peng, um caso emblemático. Técnicos-administrativos que participaram da  luta sindical foram igualmente perseguidos.


Ocorreram duas principais ondas de expurgos na UFRGS. A primeira, logo após o golpe militar de 1964, com a demissão de 17 professores. A segunda, em 1969, após o AI-5, que resultou na demissão de mais 20 professores. 


O estudante Peter Ho Peng, que estava no Rio de Janeiro fazendo mestrado em engenharia química, foi investigado, preso, torturado e forçado a entregar os documentos brasileiros, sendo tornado apátrida. Sua cidadania só foi restituída em 2012 graças  a atuação da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça que aprovou o direito de Peter Ho Peng ter novamente identidade brasileira e, depois de 40 anos, poder voltar a viver no Brasil. Peter, filho de chineses, chegou ao Rio Grande do Sul com os pais aos quatro anos de idade. 


Peng ficou oito meses preso em unidades do Dops, da Marinha e da Polícia Federal no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, de 1971 a 1973. Ao sair da prisão, recebeu asilo nos Estados Unidos, Em abril de 2013, Peter Ho Peng, acompanhado do presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, recebeu a Carteira de Identidade expedida pelo Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP/RS), após 40 anos da cassação de seu RG e da cidadania brasileira. Em outubro de 2014, com seu primeiro título de eleitor em mãos, Peng retornou a Porto Alegre para votar no Brasil pela primeira vez na vida. Ele ainda reside na Flórida, nos Estados Unidos.



 A mulher do bioma Pampa

Especialista no tema, Tatiana Mora Kuplich vai falar sobre o Pampa na COP 30

Tatiana Mora Kuplich, tecnologista da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática (DIOTG) do INPE- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, na unidade gaúcha de Santa Maria, é a mulher que vai falar sobre o bioma Pampa em evento no âmbito da COP 30, a conferência internacional que aborda questões relacionadas às mudanças climáticas, em Belém, capital do Pará, no próximo período de 10 a 21 de novembro.

A fala de Tatiana, “Mudanças Climáticas e a Resiliência dos Biomas”, será no dia 12 de novembro, no Museu Emílio Goeldi, a convite do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e é complementar ao projeto Vozes dos Biomas, iniciativa liderada pela primeira-dama da presidência da República, Janja Lula da Silva, com o objetivo de conhecer a situação de cada bioma brasileiro e garantir justiça social, equidade racial e protagonismo das mulheres na transição climática. No Pampa vive uma população de 6 milhões de pessoas.

Graduada em Biologia pela UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, doutora e professora da UFRGS na pós graduação em Sensoriamento Remoto, Tatiana acumula conhecimento sobre o Pampa gaúcho, que tem uma área total de 194 mil km quadrados, 60% não são mais de vegetação nativa.

O bioma ocupa 69% da área do Rio Grande do Sul e apenas 2,3% do Brasil. No entanto, concentra 9% da biodiversidade do país, abrigando 12.500 espécies da fauna, da flora, bactérias e fungos. Deste total, 622 espécies estão criticamente ameaçadas de extinção. As monoculturas são responsáveis pela supressão do campo nativo, como as lavouras de soja de arroz e a silvicultura, a de eucalipto para uso na construção civil, por exemplo. “Mesmo assim”, explica Tatiana, "o Pampa consegue manter suas características”.

A Lei nº 14.876, sancionada em 2024 pelo governo federal, retirou a silvicultura da lista de atividades de risco ambiental. Desse modo, a área utilizada para plantar eucalipto, ou outra exótica, não precisa passar por estudo de impacto ambiental nem por licenciamento, ampliando a vulnerabilidade do bioma.

Um fato alarmante e que ilustra o alerta da especialista, é que a partir do cruzamento dos dados da supressão de vegetação nativa detectado pelo sistema Prodes/INPE no bioma Pampa, entre 2018 e 2022, e as bases de dados emitidas pelos órgãos ambientais na esfera estadual e pelo Ibama, federal, observa-se que 94% da perda da vegetação do bioma  ocorreu sem autorização do órgão ambiental responsável. Esses dados indicam que o Pampa seja, possivelmente, o bioma brasileiro mais ameaçado na atualidade. Apesar do cenário sinistro, o objetivo do governo federal é alcançar a meta de desmatamento zero até 2030, conforme estabelece o Decreto Federal Nº 11.367 de 01 janeiro de 2023. 

“As áreas agrícolas são mal manejadas, os rios são assoreados”, diz Tatiana. E explica: “se houvesse preservação, a inundação no Rio Grande do Sul não teria acontecido na proporção que vimos em 2024. Além disso, o bioma armazena gás carbônico no solo, que é um processo conhecido como sequestro de carbono, melhora a fertilidade e estrutura do solo, criando um ambiente mais resiliente e sustentável”. E conclui: “o cenário atual mostra que não estamos cuidando do Pampa, precisamos de mais unidades de conservação e de maior fiscalização”.

Unidades de conservação

Em parte, a supressão da vegetação nativa do Pampa pode ser explicada pelo fato do Rio Grande do Sul ter apenas 49 Unidades de Conservação (UCs), elas integram o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC), que abrange UCs federais, estaduais, municipais e particulares do bioma Pampa. Esta é a região brasileira com a menor cobertura por UCs, protegendo apenas 3,03% de sua área. Vulnerável, o Pampa fica exposto a eventuais fraudes, como a declaração de Área Rural Consolidada, que dispensa a preservação de 20% da vegetação nativa, como determina a legislação.

Em 2023 a supressão de vegetação nativa do bioma Pampa foi de 654,58 km quadrados, o equivalente a 65.400 campos de futebol, conforme mostra mapeamento feito pelo INPE. No acumulado de 2001 a 2023, a supressão foi de 114.164,65 km quadrados, ou 11,4 milhões de campos de futebol. O Pampa tem 11 sistemas ecológicos identificados: campo arbustivo, campo com areias, campo de barba-de-bode, campo de espirilos, campo de solos rasos, campo graminoso, campo litorâneo, sub-montano atlântico, floresta de araucária, floresta subtropical costeira e floresta subtropical interior.

O bioma Pampa existe há dezenas de milhares de anos, é típico do Rio Grande do Sul, e se estende ao Uruguai e também à Argentina. “É um bioma que convive muito bem com o pastejo do gado. Na região há propriedades rurais familiares com criação de gado, e isso é típico, o modo de vida de centenas de pessoas não prejudica o bioma”,  diz Tatiana, e explica: “este modo de vida pampeano precisa ser olhado com cuidado e ser respeitado. O Pampa não pode ser uma área fragmentada, tem de ser contínua. O campo funciona como um sistema de proteção”. 



 Viva a polarização!



Bater na polarização e desejar uma opção palatável com nomes já conhecidos significa uma forma disfarçada e covarde de defender o inominável, inelegível e apenado. 


Polos opostos. Norte e Sul. Não é à toa que a geografia mostra o antagonismo natural do planeta Terra. Hemisfério Norte e Sul. Ocidente e Oriente. Porque na geopolítica seria diferente? Alguns veículos de imprensa, e também jornalistas em seus blogs, têm usado a palavra “polarização” na política como se fosse um palavrão. Como uma coisa condenável. Mas os opostos facilitam nossa vida, mostram com qual polo nos identificamos.


Vejo no linkedin, e também em outras redes sociais, a polarização ser esmurrada até ser colocada em nocaute a favor de uma tal saída pelo meio. Essa saída se mostra liderada pelo deputado federal Aécio Neves, o mesmo que deu início ao golpe de estado legalista contra a presidenta Dilma Rousseff ao questionar no TSE o resultado das urnas, e também por Michel Temer, ex-vice presidente, que deu o empurrão para o golpe seguir em frente ao tornar pública uma carta em que se queixava do comportamento da presidenta.


Com sessões plenárias contínuas, seguindo a técnica do torturador de abalar a vítima com interrogatórios ininterruptos, o golpe contra a presidenta democraticamente eleita foi concretizado, abrindo as portas das instituições brasileiras a quatro anos de descalabros conduzidos pelo inominável, inelegível e agora apenado. Sob sua presidência, as instituições foram militarizadas, as vítimas da covid-19 foram ridicularizadas, medicamentos nocivos à saúde foram comprados e ministrados, a legislação foi mudada para facilitar a aquisição de armas de fogo, jornalistas foram perseguidos e agredidos, a ciência foi atacada, eleitores foram barrados na hora de votar e negociatas ainda sob investigação foram realizadas, algumas culminando na venda de presentes dados ao Estado. A lista é grande, acrescente aqui outras delinquências cometidas pelo apenado.


Como não louvar a polarização? Do outro lado, temos um presidente eleito pelo voto popular e que tirou novamente o país do mapa da fome, vai alterar o imposto de renda para livrar do pagamento quem ganha até R$ 5 mil, ampliou os atendimentos feitos pelo SUS, ampliou o número de pessoas empregadas, determinou a igualdade salarial para homens e mulheres na mesma função, fixou a meta de desmatamento zero para a Amazônia, elevou o PIB para 4,1%, criou vários programas para pessoas em situação de vulnerabilidade e incentiva a cultura e o esporte. Acrescente aqui outras excelentes ações do governo. A lista é grande.


É impossível admitir a crítica à polarização e a defesa de uma opção dita mais palatável. Não existe essa possibilidade no atual momento político que o Brasil vive. As tais possíveis opções mais palatáveis defendidas por parte da imprensa são Aécio Neves, Michel Temer, Eduardo Leite (governador do RS), Tarcísio de Freitas (governador de SP),  Romeu Zema (governador de MG) e Cláudio Castro (governador RJ), todos eles simpatizantes e/ou cabos eleitorais do inominável. E não sou que digo isso, são os próprios.


Bater na polarização e desejar uma opção palatável com os nomes já conhecidos significa uma forma disfarçada e covarde de defender o inominável, inelegível e apenado.