sexta-feira, 7 de novembro de 2025

 A presidenta, a miss e as meninas do Brasil

Claudia Sheinbaum, 63 anos, é a presidenta do México. No dia quatro de novembro ela foi assediada por um homem que tentou beijá-la e passou a mão no seu seio. O abuso aconteceu na rua, no Centro Histórico da cidade do México, à luz do dia, quando a presidenta se dirigia ao Ministério da Educação Pública, cercada por eleitores. Fátima Bosch, 25 anos, Miss México, foi humilhada em público em evento na Tailândia, também no dia quatro, pelo diretor do Miss Universo 2025. No Brasil, 26.399 meninas entre 10 e 14 anos vivem em união conjugal, revelou o censo do IBGE, realizado em 2022 e divulgado no dia seis de novembro, e todas elas engravidaram, ou seja, foram estupradas.

O que há em comum entre esses três fatos? Eles mostram que não importa a idade, a nacionalidade e o continente, a mulher é importunada, assediada, agredida, humilhada e estuprada por homens que contam com o suporte estrutural da sociedade. O IBGE, na falta de um vocábulo, classificou a união das crianças e adolescentes como “união consensual”, quando sabemos que isso não existe. Essas meninas não são maiores de idade, elas estão na faixa etária da vulnerabilidade. Portanto, essa “união consensual” é estupro, é violência. A menina é retirada das brincadeiras de infância e da vida escolar por um homem que a explora de todas as formas e a faz assumir o papel de esposa, de mãe, de cuidadora, de cozinheira e de faxineira.  

Sem ter acesso à educação escolar e ao convívio com outras crianças, as meninas perpetuam a ignorância e a feminização da pobreza. É exatamente essa situação que parlamentares do Congresso Nacional querem manter para assegurar um mercado de mão-de-obra barato, ignorante de seus direitos civis e de seus direitos reprodutivos. Para conseguir seu objetivo, deputadas e deputados do campo mais atrasado da política aprovaram o PDL 3/2025, que ficou conhecimento como Projeto de Decreto Legislativo da Pedofilia, de autoria da deputada Chris Tonietto (PL-RJ), que pretende cancelar a Resolução 258/2024 do Conanda- Conselho Naconal dos Direitos da Criança e do Adolescente, que assegura o direito a interrupção da gravidez de meninas vítimas de estupro, quando sabemos que criança não é mãe e estuprador não é pai.

Mas o PDL é ainda mais cruel. Ele pretende que as meninas não recebam informações sobre seus direitos e que o governo federal não promova ações contra as tais de “união consensual”, ou seja, o casamento infantil, que é o estupro autorizado. Por ser um PDL, caso o projeto seja aprovado no Senado, não poderá ser vetado pelo presidente da República. A matéria foi aprovada por 317 votos, com 111 votos contrários. Desnecessário  dizer que o Congresso é formado majoritariamente por homens. A Câmara tem 513 parlamentares, desse total, apenas 91 são mulheres, 422 são homens.

Entre 2013 e 2023, 232 mil meninas entre 10 e 14 anos tiveram filhos. Se elas engravidaram, isso é estupro de vulnerável. Mas o Congresso Nacional, ao invés de tratar esse crime como crime, prefere culpabilizar a menina e obrigá-la a ser mãe, a não ter acesso à escola, a não ter acesso à informação, a perpetuar a miséria, a dar prosseguimento a feminização da miséria e a gerar um batalhão de mão-de-obra barata para sustentar os mimos do capitalismo e pagar as contas desses deputados e deputadas que não querem um futuro para a infância do Brasil.


 Filme mostra conexão entre regimes autoritários na América do Sul


“O Condor e a Névoa” é documento cinematográfico que confirma participação dos Estados Unidos no golpes de Estado



O premiado diretor de cinema argentino Maximiliano Gonzalez participa da exibição de seu filme, “O Condor e a Névoa”, dia 10 de novembro, segunda-feira, às 19h, no Sindicato dos Bancários (rua General Câmara 424, Porto Alegre). Logo após, haverá uma conversa com a plateia com a participação do jornalista e mestre em História Nilson Mariano, mediada por Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), que promove o evento.


“O Condor e a Névoa” conta a história de homens e mulheres que deram suas vidas em defesa da democracia e da soberania de suas nações. O filme começa no ano de 1973, quando chegaram a Argentina, em situação de exílio, João Goulart, presidente do Brasil, Juan José Torres, presidente da Bolívia, e o senador Zelmar Michelini do Uruguai, todos vítimas de golpe militar.


O filme avança até o ano de 1992, quando foram identificados no Paraguai os “Arquivos do terror”, provando que havia uma parceria entre as ditaduras latino americanas, que contava com apoio dos Estados Unidos, para perseguir e assassinar militantes políticos e a todos que se opunham aos golpes de Estado.


Arquivos do terror


Os “Arquivos do Terror” são uma coleção de documentos que descrevem diversas atividades ilícitas realizadas por agentes da repressão durante a ditadura militar de Alfredo Stroessner, de 1954 a 1989, no Paraguai. Os documentos foram encontrados em uma delegacia de polícia de Lambaré, subúrbio da capital paraguaia, Assunção, no dia 22 de dezembro de 1992, pelo advogado e ativista de direitos humanos, Martín Almada e pelo juiz José Augustín Fernández.

O juiz José Augustín Fernández e o professor e advogado Martín Almada pesquisavam arquivos sobre um ex-prisioneiro político na delegacia de Lambaré quando encontraram documentos sobre o destino de milhares de latino-americanos que haviam sido sequestrados, torturados e mortos pelos serviços de segurança da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai com a cooperação da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, um  esquema que ficou conhecido como Operação Condor.

Os arquivos contém números assustadores: 50 mil  pessoas assassinadas, 30 mil dadas como desaparecidas e 400 mil presas. Os documentos também revelaram que outros países, como Colômbia, Peru e Venezuela, cooperaram com a Operação Condor fornecendo informações às ditaduras do Cone Sul e aos agentes dos Estados Unidos. 

Maximiliano Gonzalez


O diretor Maximiliano Gonzalez nasceu na província de Misiones, na Argentina. Concluiu seus estudos em Puerto Iguazú antes de se mudar para Rosário para estudar na Escola de Cinema. Em seguida, recebeu uma bolsa de estudos da Escola Nacional de Cinema de Buenos Aires (ENERC). Seus roteiros receberam inúmeros prêmios e seus filmes conquistaram reconhecimento em festivais de cinema nacionais e internacionais. Como diretor e roteirista, realizou: “Quiero Volverme Tiempo (Víctor Heredia & Latinoamérica)” (2023), e “Lejos de Peking” (2020), entre outros. 


Gonzalez também é o diretor da série “La Muerte de un Presidente”, sobre o ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964. Organizado em seis capítulos, a série conta o final da vida do líder trabalhista e estreou em 2020 na Argentina. O ex-presidente do Brasil viveu na Argentina os últimos anos de sua vida, de 1973 a 1974, em uma fazenda próxima a Buenos Aires. A produção demandou cerca de dois anos para preparação e conclusão.

Nilson Mariano


Nilson Mariano é graduado em Jornalismo e mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Publicou livros em português e espanhol sobre a Operação Condor, revelando o pacto secreto entre as ditaduras militares do Cone Sul. Entre as premiações que obteve como repórter estão o Prêmio Nacional Esso de Jornalismo (2013), mais cinco Essos regionais, o Vladimir Herzog de Direitos Humanos, dois da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), World Association of Newspaper (WAN), Embratel, Associação Rio-grandense de Imprensa (ARI) e Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH). Também é co-autor em quatro livros de reportagens.


Mariano é Cidadão Emérito de Porto Alegre, "Jornalista Amigo da Criança" (Andi/Unicef) e Prêmio Direitos Humanos Rio Grande do Sul (2000). Participou de quatro coletâneas organizadas por professores da PUCRS e da UFRGS sobre regimes autoritários. Nasceu em Candelária (RS), atuou como repórter nos jornais Zero Hora e Folha da Tarde por 35 anos. 





terça-feira, 4 de novembro de 2025

 Livro “A empáfia da covardia” é argumento contra a anistia para golpistas


O Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) e a Associação de Ex-presos e Perseguidos Políticos/RS lançaram o livro “A empáfia da covardia”, organizado por Omar Ferri e Jair Krischke e publicado pela editora BesouroBox. O livro é uma importante contribuição jurídica e histórica para ser adicionada à lista de argumentos contra a anistia aos réus da tentativa de golpe de Estado em 08 de janeiro de 2023. A publicação está organizada em seções que abordam desde a ascensão de figuras políticas controversas, passando pela corrupção institucional, até chegar à luta pelos direitos humanos no Brasil. O lançamento do livro aconteceu em cerimônia na Assembleia Legislativa dia 28 de outubro.


A obra resgata os recentes eventos que revelaram o padrão de corrupção e desrespeito à democracia no Brasil, conduzidos pelo núcleo duro da presidência da República no período de 2019 a 2022, e que avançaram sobre o mês de janeiro de 2023 com a tentativa de golpe e o vandalismo na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. No dia 12 de dezembro de 2022, data da diplomação do presidente Luís Inácio Lula da Silva no Tribunal Superior Eleitoral, apoiadores de Bolsonaro já haviam tentado invadir a sede da Polícia Federal, além  de depredarem e incendiar um ônibus e um carro e promoverem uma baderna no centro da cidade, provocando o fechamento do comércio para evitar maiores danos.


Os autores da obra explicam que o objetivo é “registrar a inconstitucionalidade de qualquer lei que pretenda conceder anistia aos réus das criminosas ações adotadas na tentativa de golpe em 08 de janeiro; anistiar é um crime de lesa-pátria, é autorizar aquilo que a Constituição proíbe”. 


Os autores


Omar Ferri, advogado, ex-presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos e ex-procurador federal. Durante sua vida profissional, Ferri exerceu vários cargos públicos, entre eles o de vereador de Encantado e de Porto Alegre no período de 1990 a 1994, e foi procurador da Fundação Brasil Central no governo do presidente João Goulart. Ele foi preso duas vezes durante a ditadura. Ferri é autor do livro “Seqüestro no Cone Sul”, sobre o sequestro em Porto Alegre dos uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz, em 1978. Naquela ocasião, Omar Ferri atuou como advogado dos sequestrados.


Jair Krischke, historiador, é o fundador do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), em 1979. Ele foi colaborador do Acnur- Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Naquele período, a principal missão de Krischke com o MJDH era proporcionar asilo, ou exílio, às vítimas da perseguição política pelas ditaduras no Cone Sul. Estima-se que cerca de duas mil pessoas, perseguidas pelas ditaduras, tenham sido salvas graças a ação do MJDH. 


O livro “A empáfia da covardia” está disponível na sede do MJDH e pode ser solicitado via Instagram @mjdh O valor sugerido é R$ 40,00.